Com turnê “Pirata”, Jão promove o melhor show da nova geração do pop nacional
Na última sexta-feira (18), Jão realizou o primeiro dos três shows esgotados da turnê “Pirata” no Espaço das Américas, em São Paulo. Maior casa de show da cidade, esta é uma das maiores marcas já feitas por um artista solo no espaço que também recebe atrações internacionais. Sem realizar shows desde o início da pandemia, quando encerrou a elogiada turnê do disco “Anti-Herói”, o novo espetáculo, que estreou semana passada no Rio de Janeiro, também com datas lotadas, se comprovou, na terra da garoa, como o melhor show da nova geração do pop nacional.
Digo isso não somente por sua ótima performance vocal, músicas bem escritas, mas, sim, pela produção. Assim que entrou em cena ao som de “Clarão”, faixa que abre o disco “Pirata”, lançado no ano passado, o público foi surpreendido com um barco, em tamanho real, no palco, trazendo o cantor na proa. Além da embarcação, o fundo do palco era preenchido por telões de LED que reproduziam intros que mudavam de acordo com cada música.
Com cerca de 1h40 de show, o cantor de 27 anos não somente trouxe o repertório do novo disco, como também relembrou canções mais antigas, como “Me Beija com Raiva” e “Imaturo”. Foi uma aposta certeira, pois apesar de seu último trabalho ser ótimo, focando em uma sonoridade mais pop e menos triste, foi o Jão pessimista de “Vou Morrer Sozinho” que chamou a atenção do público, em 2018. Junto aos novos e antigos sucessos, também estava presente na setlist o clássico “O Tempo não Para”, de Cazuza – a maior inspiração do paulistano.
Além do barco, vale citar que, ao menos em São Paulo, Jão contou com um palco menor localizado mais ao centro da pista. Ali o músico se encontrava com a plateia e também usou a plataforma para performar, no teclado, a emotiva “Você me Perdeu”. Em outro set do show, mais acústico, o cantor e sua banda se reuniram envolta de uma mesa branca, bem no estilo “Midsommar”, para apresentar algumas de suas melhores músicas: “Coringa” e “VSF”. Seguindo em ritmo frenético, com pouco tempo para pausas, essa é, de fato, a turnê dele com menos conversa com o público. Mas tudo bem. As canções já falam o que precisa ser dito.
Guardando um artíficio especial para a melancólica “Olhos Vermelhos”, não foram só as lágrimas de seus fãs que molharam o ambiente, mas também uma chuva caía sob ele enquanto chegava na reta final da canção. Efeito ultrapassado em turnês de astros internacionais, mas pouco utilizada em solo nacional, a chuva só acrescentou, fazendo daquela performance um momento especial, que lateja na memória da melhor forma possível. Encerrando com o sucesso “Idiota”, que ganhou força graças ao Tik Tok, o show foi finalizado com uma pequena frustração: a faixa “Doce” não foi cantada por conta de problemas técnicos. Fica pra uma próxima.
Termino esse texto relembrando que o Brasil nunca careceu de bons artistas pop, mas foram raras às vezes em que um ou outro se deu ao trabalho de idealizar turnês com conceito ligado ao álbum, incluindo cenários ou qualquer outro tipo de técnica no show. Claro que eu não poderia deixar de citar Sandy & Junior, que desde o início da carreira se encarregaram de levar ao público shows apoteóticos como a turnê “Quatro Estações”, e a recente “Nossa História”. Mas dessa atual geração, faltava alguém que arregaçasse as mangas pra produzir algo fora do comum. Jão fez.
Junto com a turnê “Portas”, de Marisa Monte, Jão e seu show “Pirata” encabeçam a lista dos grandes eventos da retomada de shows da música brasileira no “pós-pandemia”. Vale a pena ver.
Crédito foto: Rafael Strabelli/Espaço das Américas